A forma do aço

"Deus está me provando com fogo. Tenho aceitado as marteladas da vida, e às vezes sinto-me tão frio e insensível co mo a água que faz sofrer o aço"

Um bom homem, depois de viver intensamente nas orgias da vida, decidiu entregá-la a Deus. E passou a viver em função da sua fé, tra balhando com afinco na obra do Senhor, na prática do amor ao próximo. Mas, apesar de toda a sua dedicação, as dificuldades eram constantes em sua vida. Os problemas iam se acumulando dia após dia.

Num belo dia, recebeu a visita de um amigo que ficou compadecido da sua difícil situação, e comentou:

– É realmente estranho que, justamente depois de você se tornar um homem temente a Deus, aumentaram as dificuldades na sua vida, irmão José. Eu não quero enfraquecer a sua fé, mas apesar de sua crença espiritual, nada tem melhorado em sua vida.

O ferreiro não respondeu ime diatamente: ele havia pensado no que podia estar acontecendo e pe diu uma resposta a Deus sem en tender os acontecimentos. Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, fitou os olhos nas ferramentas de sua oficina e encontrou a explicação que procurava. E disse ao amigo:

– Chega em minhas mãos, nesta oficina, o aço ainda não trabalhado, e preciso transformá-lo em espadas. Você sabe como isso é feito?

– Não! Respondeu o amigo sem entender o motivo da pergunta.

– Primeiro, eu aqueço a chapa de aço num calor muito grande até que ela fique totalmente vermelha. Em seguida, sem qualquer piedade, pego o martelo mais pesado e aplico vários golpes até que ela adquira a forma desejada. Logo, a mergulho num balde de água fria e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura. Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita, porque uma vez apenas não é suficiente.

O ferreiro fez uma longa pausa e depois continuou:

– Às vezes, o aço que chega às minhas mãos não consegue aguen tar esse tratamento; o calor, as marteladas e a água fria acabam deixando-o totalmente rachado. E assim, jamais se transformará nu ma boa lâmina de espada. Então, simplesmente coloco no monte de ferro velho que você viu na entrada da loja.

A essas horas, o amigo tenta decifrar aquelas palavras até que o ferreiro resolve quebrar o silêncio e conclui:

– Sei que Deus está me provando com fogo. Tenho aceitado as marteladas da vida, e às vezes sinto-me tão frio e insensível co mo a água que faz sofrer o aço. Mas o que mais peço a Deus é que Ele nunca desista, até que eu consiga tomar a forma que espera de mim. Que Ele tente da maneira que achar melhor, pois jamais desistirei dEle; o que não quero é ser colocado no monte de ferro-velho das almas.

Fonte: Revista Plenitude