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Memórias de um cárcere

Antes de ser preso, o antigo 'Binho Menor' usava drogas, roubava e chegou a ser alvejado por vários tiros


Quem vê hoje Flávio de Oliveira, de 24 anos (foto abaixo), pelas ruas do Rio de Janeiro, com ar sereno, trabalhador, jamais pode imaginar a vida que ele levava há alguns anos atrás. Este jovem conheceu as drogas ainda criança, com apenas 10 anos. Sua primeira experiência foi a maconha. Depois a cocaína. Flávio afirma que se tornou viciado na primeira droga. “Fumava praticamente o dia inteiro para ficar ‘legal’”, lembra.

Na vida do crime, também começou cedo com pequenos delitos em supermercados e, apesar de sempre ter tido uma boa família, acabou sendo influenciado pelas más companhias. “Foram elas que me levaram a conhecer as coisas erradas”, disse.

Conhecido como ‘Binho Menor’, sua especialidade era assalto a mão armada. Na quadrilha da qual fazia parte, seu plano, e dos demais colegas, era tirar a vida de policiais à paisana para conseguir mais armas. “Nós não tínhamos muitos recursos, então planejamos de fazer vários assaltos dentro dos ônibus para nos fortalecer. Na verdade, o nosso foco era o policial que, caso estivesse na condução, perderia a arma e também a vida. Era assim que a gente pensava, era o nosso plano, a nossa sentença”, lembra.

Alvejado por vários tiros

Não demorou muito e vieram os delitos maiores. Aos 14, teve sua vida colocada em risco, sendo alvejado por vários tiros a poucos metros do portão de sua casa. Nenhum projétil o atingiu, mas o susto não o fez parar e continuou na criminalidade. Em uma delas, Binho Menor e seus comparsas roubaram um delegado na Barra da Tijuca, área nobre da cidade do Rio de Janeiro. “Como não temíamos a prisão, abordei o rapaz que estava com um fardo de dinheiro e parado numa banca de jornal. Tomei a carteira e fugimos. A partir de então, começou uma perseguição. Os policiais cercaram a gente e conseguiram nos pegar. O rapaz que foi assaltado veio até nós e se apresentou como delegado. Quebramos a cara. Foi a minha primeira detenção”.

E outras vieram, mas ‘Binho Menor’ sempre fugia e retornava aos delitos. Uma delas foi na saída de um banco, onde abordou um rapaz e levou o pagamento dele. O medo não fazia parte de seu vocabulário. Tanto, que após o delito parou para almoçar numa pensão com seus companheiros de roubo. Contudo, por meio do disque-denúncia, a polícia conseguiu chegar até eles e, novamente, começou outra correria. “Encurralado, acabei sendo preso, mas fiquei apenas dois anos”, afirma.

 Aos 18 anos, Flávio atingiu o fundo do poço. Fugitivo da justiça, afastado da família, chegou a morar nas ruas. Foi quando o jovem refletiu sobre a sua vida e viu que nada do que já tinha vivido era válido.

“Bem vindo ao inferno”

A vontade de mudar veio junto com a coragem de assumir seus erros. Procurou sua mãe, que sempre esteve disposta a ajudá-lo, e decidiu seguir os conselhos dela. Um dia, ao retornar para casa, a mãe lhe deu o recado de que policiais haviam estado lá, a sua procura, para que cumprisse os mandatos que existiam contra ele. Decidido se entregar para a justiça, foi até a 2ª Vara de Infância e Adolescência, para responder os mandatos. Chegando lá, recebeu atendimento de uma assistente social e foi encaminhado para cumprir sua medida. “No presídio, os detentos me recepcionaram da seguinte forma: 'Bem-vindo ao inferno'. Tudo de ruim acontecia naquele lugar. Muitas vezes comíamos alimento estragado, sofria ameaças e ainda enfrentava problemas com a superlotação”, revela

O momento mais difícil, segundo Flávio, foi quando teve de decidir sobre uma atitude de um agente penitenciário. “Sempre fui comunicativo com todas as galerias e um dos funcionários achou ruim a minha afinidade com os outros detentos e me abordou de forma covarde. Falei com ele que estava errado por agir daquela maneira. O coletivo se revoltou e disse que eu tinha que dar a sentença, porque por eles iriam quebrar tudo e fazer uma rebelião. Eles respeitaram a minha decisão. O agente ficou esperando a minha resposta, porque, se viesse a acontecer uma rebelião, quem iria pagar seria eu”, conta.

A nova opção de vida

Participando das reuniões da Igreja Universal dentro do presídio, Flávio parou de usar drogas e resolveu entregar a vida a Deus. “No início houve muita crítica. Muitos perguntavam: ‘Cadê aquele ‘Binho Menor’ da antiga?’ Eu respondia a eles que o ‘Binho Menor’ fazia parte do passado e agora eu era Flávio de Oliveira”.

Flávio conta que, depois de algum tempo, muitos do que debocharam de sua nova opção de vida passaram a lhe pedir oração e orientação. Ao conquistar a liberdade, Flávio passou a vender doces nas ruas, sentindo o prazer de ganhar o próprio dinheiro de forma honesta. “Com Deus se tornou tudo mais fácil, no sentido de não ter vergonha”, revela.

Como a venda cresceu, ele investiu logo nos estudos. Matriculou-se em cursos profissionalizantes e, devido ao seu desempenho, foi encaminhado a trabalhar de carteira assinada no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). Participou também do programa Jovens Pela Paz, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 2003, foi aprovado no concurso público e, após dois anos, casou-se. Ele se tornou pai e, atualmente, leva uma vida tranquila, já que não deve mais nada à justiça. Além do serviço público, vende bijuterias nas horas vagas. Flávio é membro da IURD no bairro de Cosmos, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Hoje ministra palestras para adolescentes contando a sua história de vida, e até pensa em escrever um livro sobre isso. Diante de tamanha transformação, Flavio faz questão de deixar uma mensagem a todos: “Você que está na vida do crime, praticando o mal, sem perspectiva, saiba que já fui assim. Hoje não preciso disso, porque a dose mais forte habita em mim, que é o Senhor Jesus. A fórmula é abrir o coração e dar uma chance para Ele entrar. Deus está de braços abertos só esperando uma oportunidade. Quando fiz isso, Ele mudou a minha vida, me transformou. Você vai ser muito feliz a partir do momento em que der uma oportunidade para Deus”, finaliza.